Roberto Santiago
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CIPRIANO DE MEDEIROS LIMA
(1829-1891)


O livro Serra Geral: Diamantes, Garimpos e Escravos (Editora Cuatiara: 2001, 330 páginas), autoria do montes-clarense Simeão Ribeiro Pires, aborda aspectos histórico e econômico da região norte-mineira do período colonial e imperial, principalmente da região da Serra Geral e da extração do Diamante no século XVIII, bem como da aristocracia mineradora e escravagista da época.

O autor aborda, ainda, a história de personagens importantes do século XIX, como Francisco Gomes Brandão (Visconte do Jequitinhonha) e Cipriano de Medeiros Lima (Barão de Jequitaí), este o mais importante empresário norte-mineiro da segunda metade do século XIX.

No livro, o que mais me chamou a atenção foi a história de Cipriano (foto acima). Nasceu em 1829, na fazenda Cedro, no Arraial do Bom Fim (atual município de Bocaiúva). De instrução, conseguiu apenas o curso primário, mas era possuidor de rara inteligência, habilidade e tino comercial. Ainda jovem, foi trabalhar na fazenda Brejo Grande, então de propriedade de Antônio Caetano Nunes de Macedo e sua esposa Ludovina da Costa Ferreira. Com a morte dos proprietários, que não deixou filhos, a fazenda Brejo Grande, que tinha onze mil alqueires, passou a pertencer aos escravos por testamento. Como não havia um líder entre os escravos que soubesse administrar a fazenda, optaram por vendê-la.

Com uma grande engenharia financeira conseguiu obter recurso e arrematou a fazenda de porteira fechada: terras, benfeitorias e criações. Estava iniciando uma epopéia empresarial de um homem que deixou marcas na história norte-mineira. Com dinamismo explorou a fazenda fazendo aumentar os lucros. O foco do seu negócio era a pecuária. Com isso passou a adquirir outras fazendas e escravos na região.

Com freqüência viajava ao Arraial do Tijuco (atual município de Diamantina) a negócios e, em pouco, tempo tornou-se figura conhecida, respeitada e admirada. O Arraial do Tijuco, naquela época, era a Meca comercial de todo o Norte, Noroeste e Vale do Jequitinhonha. Os comerciantes locais estavam tendo problemas para receber dívidas de produtores na região de Urucuia (Noroeste), onde predominava a lei do mais forte. Os comerciantes eram ameaçados de morte e postos a correr quando iam cobrar as dívidas. Aparentemente não havia solução e os prejuízos só aumentavam.

Cipriano teve conhecimento do problema e deu uma solução, que exigia habilidade, jeito e elevada dose de inteligência. Simplesmente comprou dos comerciantes as dívidas com desconto de cinqüenta por cento.

Para receber as dívidas, preparou a primeira expedição ao Urucuia com dezenas de homens da sua fazenda, devidamente armados e dispostos a tudo. O ritual da primeira expedição foi seguido à risca pelas demais. À frente de sua tropa particular, com armas colocadas à vista, chegava à fazenda do devedor, com ar solene e dizia:

Pois é, meu amigo, estando de viagem para a região do Urucuia, a negócio de compra de gado, e sabendo o senhor como uma pessoa honesta, com débitos vencidos no Arraial de Tijuco, julguei que isso não ficava bem. Eis aqui a devida quitação dos credores. Como pretendo comprar gados, e sabendo o senhor possuidor de grande criatório, venho fazer negócio. Negócio a dinheiro, pois o pagamento é a quitação de seus compromissos, com a sua assinatura pelas suas mercadorias recebidas. Tenho, entretanto, de receber a mais, pelos juros e as despesas de viagem, pois o amigo teria de arcar com as mesmas para fazer o pagamento no distante Arraial de Tijuco.

Nenhum devedor visitado contestou a dívida cobrada, pois a tropa de Cipriano estava ali para garantir a cobrança. Com isso ganhou muito dinheiro e expandiu a sua fortuna.

Ele foi um visionário. Em suas andanças logo percebeu a importância viária do rio São Francisco. Em 1875, com a descoberta de Diamante no rio Jequitaí, vislumbrou intenso comércio naquela região. Cidades como Coração de Jesus, Montes Claros e outras já se abasteciam com produtos oriundos do Nordeste do Brasil via rio São Francisco. Com isso, partiu para a realização de ser o concessionário para a construção e administração da estrada de ferro Montes Claros ao porto de Extrema (atual município de Ibiaí). Conseguiu a concessão do governo da Província de Minas, através da lei nº 3.648. Um ano depois, vendeu a concessão para uma Companhia da Corte do Rio de Janeiro por cento e cinqüenta mil contos de réis. Já pressentia futura crise no setor rural com libertação dos escravos que se aproximava.

Com a emancipação dos escravos em 1888, a economia do setor rural na região norte-mineira passou por processo de decadência. Com Cipriano não foi diferente. Como os seus negócios eram diversificados, conseguiu sobreviver e manter a sua fortuna.

Veio a falecer em 1891, repentinamente, quando entregava cerca de mil cabeças de gado em lugar denominado Pedra da Brígida, dezoito quilômetros de Várzea da Palma.

Deixou uma fortuna. Foram mais de 25 fazendas com área total de mais de trinta e cinco mil alqueires com cerca de trinta mil cabeças de gado. Mais de uma centena de casas em cidades e povoados. Seiscentos contos de réis em diamantes, mais de oitocentos contos de réis em empréstimos e cerca de quinhentos contos de réis em dinheiro vivo. Uma grande fortuna, até mesmo para os padrões de hoje.

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Texto de:
Roberto Carlos Morais Santiago
Enviado por Roberto Carlos Morais Santiago em 08/05/2010
Alterado em 29/06/2020
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